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Carreira de Cozinheiro e Chef no Brasil: não coloque sua cabeça em uma bandeja.

  • Foto do escritor: Editorial Revista Bonapetit
    Editorial Revista Bonapetit
  • 28 de ago.
  • 4 min de leitura
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Se existe um palco onde paixão e disciplina se encontram, ele se chama cozinha profissional. Mas paixão sem estratégia vira aposta — e, no Brasil de 2024–2025, apostar a cabeça “na bandeja” é tudo que um cozinheiro ou chef em ascensão não deve fazer. O setor vive um ciclo ativo, com geração de empregos e expansão de negócios, mas também exige foco em especialização, leitura de tendências e jogo de cintura para empreender com saúde financeira. Em outras palavras: carreira é projeto, não improviso.

O cenário (com números na mesa)O foodservice continua empregando em massa. Em 2024, bares e restaurantes criaram cerca de 230 mil vagas e atingiram recorde histórico de empregos — sinal de demanda viva e portas se abrindo para quem chega com competência e atitude.


No universo empreendedor, o Brasil registrou 1,4 milhão de novos pequenos negócios só no 1º trimestre de 2025, avanço expressivo sobre 2024 — parte relevante deles em serviços como alimentação. Para quem pensa em “bancar o próprio jaleco”, o apetite por CNPJs segue alto.

O mapa do setor também é vasto: em 2024 havia cerca de 1,6 milhão de estabelecimentos de alimentação ativos no país, o que reforça concorrência intensa e necessidade de diferenciação desde o primeiro cardápio.


Como pano de fundo, a força de trabalho do setor (formais e informais) já passava de 4,9 milhões de pessoas em 2023 — uma estrutura que continua se sofisticando em gestão, tecnologia e experiência.

E a régua de confiança não caiu: pesquisas setoriais indicaram projeção de alta de até 15% no faturamento no início de 2025, puxada por sazonalidade e consumo fora do lar.


Trilhe com método: a espinha dorsal da carreira


  1. Especialize-se por etapas. Comece pelo domínio técnico (cortes, bases, cocções, pâtisserie básica, segurança de alimentos). Em seguida, escolha um foco de profundidade: cozinha brasileira contemporânea e regionalidades, panificação e fermentação natural, confeitaria avançada, grelha e defumação, plant-based, cozinha de hospitalidade (hotéis e catering) ou gestão de A&B. Busque itinerários formais em redes como o Senac, que estruturam trilhas e atualizam o portfólio segundo o Mapa Funcional da Gastronomia.

  2. Gestão não é opcional. Custo de prato, ficha técnica, CMV, engenharia de menu e fluxo de caixa são “facas” tão essenciais quanto a de chef. Programas e relatórios setoriais mostram que resultados melhoraram em 2024–2025, mas margens continuam sensíveis: quem domina números atravessa sazonalidade e negocia melhor com fornecedores.

  3. Aprenda a vender experiência. Entrega, salão, bar, eventos, assinaturas e parcerias locais compõem um ecossistema de receita. Em muitos mercados, o delivery deixou de ser acessório para virar canal estratégico; branding, fotografia, embalagem e tempo de expedição contam tanto quanto o mise en place.

  4. Construa repertório cultural. Cozinhar Brasil é estudar biomas, sazonalidade e cadeias curtas. A nova sofisticação está em valorizar o local com técnica global: mapear produtores, aproveitar integral de ingredientes, reduzir desperdício, e comunicar origem com transparência.


Leia as tendências (e transforme em prática)


  • Brasilidade contemporânea: combina terroir, técnicas de conservação e apresentações limpas — boa porta para destacar identidade.

  • Saudável e funcional: demanda crescente por frescor, redução de ultraprocessados e rotulagem clara; cardápios com opções balanceadas ampliam ticket e fidelizam.

  • Food tech na rotina: sistemas de PDV integrados, BI de vendas, precificação dinâmica, plataformas de reservas, e cozinha eficiente (pré-preparo, cocção de precisão) viraram vantagem competitiva.

  • Sustentabilidade viável: gestão de resíduos, óleo, água e energia já pesa em contratos corporativos e na percepção do cliente final.


Relacione-se como se sua carreira dependesse disso (porque depende)


Mentores, ex-chefes, professores, produtores, baristas, sommeliers, mixologistas, fotógrafos de comida e jornalistas gastronômicos formam uma rede que abre portas. Três movimentos simples e potentes:

  • Estágios curtos e focados em casas com mise en place exemplar.

  • Eventos técnicos (feiras, campeonatos, festivais) para benchmarking e vitrine de portfólio.

  • Comunidade digital profissional: publique processos (não só pratos prontos), mostre fichas técnicas organizadas e bastidores éticos. Relevância > viral


Problemas que você pode (e deve) evitar


  • Abrir antes de saber operar. Muitos negócios nascem no impulso — sem ficha técnica padronizada, precificação correta, plano de compras e DRE simples. Em um mercado com milhões de operações ativas, amadorismo é custo certo.

  • Confundir fama com carreira. Likes não pagam folha, aluguel nem CMV. Tenha metas mensais de margem, giro de estoque e satisfação de cliente (NPS/avaliações).

  • Ignorar legislação e segurança. MAPA, vigilância sanitária, boas práticas, alergênicos: erro aqui corrói reputação e caixa.

  • Descolar produto da vizinhança. Cardápio, preço e serviço precisam conversar com o entorno (fluxo, tíquete, ocasião). Pesquisa de praça antecede assinatura de contrato.

  • Subestimar pessoas. Turnover é crônico; invista em trilhas de capacitação, feedbacks curtos e planos de progressão. O setor gera muito emprego, mas retém quem enxerga futuro.


Estratégia de médio prazo: um roteiro possível (24 meses)


  • Meses 0–6: Base técnica sólida + curso de gestão de custos; monte portfólio, padronize 10–15 receitas com ficha técnica e foto; estágio focado.

  • Meses 7–12: Escolha um foco (ex.: grelha, fermentação, confeitaria de restaurantes) e conquiste uma certificação; inicie consultorias pontuais ou pop-ups para testar P&L.

  • Meses 13–18: Estruture um MVP de negócio (dark kitchen, caterings, residência gastronômica, bancadas compartilhadas); implemente BI simples e metas semanais de CMV.

  • Meses 19–24: Valide branding e proposta de valor; só então avalie ponto físico/expansão — com capital de giro reservado e indicadores consistentemente positivos.


Fecho: cabeça erguida, bandeja no passe


O Brasil oferece palco e plateia para quem leva a cozinha a sério. Os números mostram movimento, mas sobrevivem — e brilham — os que tratam a carreira como obra contínua: estudo dirigido, leitura do mercado, relações de confiança e disciplina financeira. Não coloque sua cabeça na bandeja: coloque seu método no passe, seu time no centro e seu nome no lugar certo do menu — o do profissional que entrega hoje e está pronto para o serviço de amanhã.


Editorial especial - Revista digital de Gastronomia Bonapetit 2025

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