Quando a Política Senta à Mesa: Os Sabores Amargos das Tarifas Americanas na Gastronomia Global e Brasileira
- Agencia Agiktus

- 30 de jul.
- 2 min de leitura

Por mais que pareça distante da cozinha, a geopolítica tem o poder de temperar — e por vezes azedar — os ingredientes que chegam ao prato. As tarifas impostas pelo governo Trump entre 2017 e 2021, sob a bandeira do protecionismo comercial, criaram verdadeiras ondas de impacto no setor gastronômico mundial. Embora o foco inicial fosse conter a influência econômica da China, os reflexos foram sentidos até nas prateleiras de restaurantes, supermercados e cozinhas profissionais da Europa e América Latina — incluindo o Brasil.
Com tarifas pesadas sobre produtos importados como azeite de oliva europeu, queijos franceses e vinhos italianos, os preços subiram consideravelmente nos EUA. Restaurantes de alta gastronomia foram obrigados a adaptar cardápios, trocar ingredientes e até rever conceitos. Aquilo que antes era sinônimo de autenticidade e sofisticação se tornou caro demais — ou inviável — para muitos estabelecimentos. A repercussão foi imediata: chefs renomados criticaram publicamente a medida, e o consumidor passou a sentir no bolso o peso da nova política externa.
Mas como isso afeta o Brasil?
Apesar de não ser o alvo direto das tarifas, o Brasil sentiu os reflexos indiretos. Primeiramente, abriu-se uma oportunidade para produtores brasileiros preencherem lacunas no fornecimento de ingredientes — como vinhos, frutas e alimentos processados — antes dominados por europeus. Por outro lado, o aumento da demanda interna por produtos premium elevou os preços locais, tornando o acesso a certos insumos mais restrito aos pequenos negócios gastronômicos. Além disso, os efeitos no câmbio, impulsionados pela instabilidade global, encareceram importações de equipamentos e insumos para o setor.
Na gastronomia brasileira, marcada pela criatividade e resiliência, a resposta foi uma valorização ainda maior do terroir nacional. Chefs passaram a explorar ingredientes regionais com mais profundidade, redesenhando cardápios para valorizar o que é nosso. A cozinha brasileira, rica em diversidade, se beneficiou dessa reinvenção forçada — mas não sem desafios.
Minha opinião? Tarifas como essas, impostas de forma abrupta, podem até proteger setores pontuais no curto prazo, mas impõem um alto custo cultural e criativo ao universo da gastronomia. A cozinha é uma linguagem global — e quando ela é silenciada por barreiras comerciais, todos perdem um pouco do sabor do mundo.
Editorial Revista Bonapetit - Julho 2025

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