Precarização do Trabalho e Baixos Salários na Gastronomia.
- Editorial Revista Bonapetit

- 15 de ago.
- 2 min de leitura

O brilho das cozinhas profissionais, iluminado por pratos sofisticados e experiências inesquecíveis ao cliente, esconde muitas vezes uma realidade dura e silenciosa: a precarização do trabalho gastronômico. Por trás da mesa bem servida, há profissionais que enfrentam longas jornadas, muitas vezes superiores a 10 ou 12 horas diárias, sem o devido reconhecimento financeiro ou formalização em carteira.
A verdade é que a gastronomia ainda carrega uma cultura de sacrifício como sinônimo de paixão, o que acaba normalizando salários baixos, ausência de benefícios trabalhistas e contratos informais. Esse cenário gera um ciclo preocupante: cozinheiros, auxiliares e confeiteiros trabalham exaustivamente, mas não conseguem estabilidade financeira ou qualidade de vida. Muitos acabam abandonando a profissão por esgotamento ou buscam alternativas em outros setores mais justos e estruturados.
O problema vai além da remuneração: trata-se de valor humano. Cada prato servido é fruto de técnica, disciplina, criatividade e suor. No entanto, a realidade é que grande parte da mão de obra gastronômica não é reconhecida como deveria. A consequência? Uma desvalorização sistêmica que fragiliza não só os profissionais, mas também o futuro da própria gastronomia, que perde talentos preciosos para outras áreas.
É preciso abrir o debate: até quando será aceitável manter uma profissão que encanta o mundo, mas que aprisiona seus trabalhadores em condições precárias? O setor precisa evoluir. Políticas internas de valorização, planos de carreira, salários compatíveis com a responsabilidade do cargo e contratos formais são caminhos possíveis. Além disso, gestores e empresários precisam compreender que bem-estar e justiça trabalhista são ingredientes tão fundamentais quanto sal e azeite em uma cozinha.
Investir em dignidade profissional não é custo, é estratégia de sustentabilidade. Restaurantes e empresas que respeitam seus colaboradores não apenas reduzem a rotatividade, mas também constroem equipes mais engajadas, criativas e comprometidas. Afinal, quando o cozinheiro é valorizado, o sabor servido ao cliente carrega também o tempero da motivação e do respeito.
A gastronomia brasileira tem potencial de ser reconhecida não apenas pelos sabores, mas também pela forma ética e justa de tratar quem dá vida a ela. É hora de transformar a precarização em valorização, garantindo que o amor pela cozinha não seja confundido com exploração.
Editorial Revista Bonapetit - 2025

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